quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma dose de sono, por favor.

Eu a entendia... Mas ela não quer mais saber de mim como antes.

A menina sabia que o descanso era fundamental pra que se (re)estruturasse, mas para que ela não sentisse a sensação de inutilidade quando acordasse, então preferia nem dormir.
E se conhecia tanto que fechava os olhos sempre que precisava falar de si, porque acreditava ser uma forma que evitava os outros olhos (e a própria imagem) enquanto criava palavras pra expressar o que então sentia...
A verdade é que essa menina não suportava o peso de suas idéias. Por isso não gostava quando eu lia as partes interessantes de seus relatos e quando percebia que eu a entendia. Apesar de esquecer as janelas abertas, ela não gosta de luz... ela prefere o escuro mesmo.

Uma vez ela me disse que tinha medo de mudar aquilo que já tinha, como se tivesse medo do "novo". Quem sabe ela goste do que já está feito, formado, consciente, experiente, dentro dela. Quem sabe ela se angustie tanto que talvez queira viajar em outra perspectiva (diferente do pensamento latente), mas se acorrente ao passado.. ou se apegue a algo ainda desconhecido pra mim, como a reposta para as próximas perguntas. Ela também me fez muitas perguntas sem resposta, com muito bom humor... Totalmente diferente da minha risada escandalosa, ela ria baixinho, com a mão na boca ou na testa. Mas sabia o que dizia.

Até que então ela também perguntou a si o quanto eu era importante pra ela... E vice-versa. Porque ela também tinha medo que viesse a ter medo de mim, do que eu iria dizer pra ela. E mesmo que ela sinta receio por tudo, meço com cuidado e digo. Eu sei que ela me ouve. E eu a respeito tanto, que espero que ela se encontre e que me encontre.. Acho que a menina não conseguiria viver sem mim, sem falsa modéstia. Eu suponho que uma hora dessas ela esteja vagando, mas eu estou a conhecendo, justamente, para resgatá-la. Eu sei o quanto a vida é preciosa pra ela e quanto tempo perde analisando os fatos, mas isso é muito bom, porque ela é mais sensível e inteligente (talvez menos feliz) que as demais. A menina me escolheu pra que eu não mais a deixasse de lado... Ela não só queria olhar o mundo, mas queria participar dele. E eu dou essa chance, um modo de viver em libertação.

Menina... o que será que você pensa que é a LIBERDADE? O que há de bom em ser leve, descompromissada com a vida? Será essa a sua condição que traz felicidade ou a retira?
E o que pesa tanto em você que se dói só porque dá sentido à vida? Viver a própria vida necessita ancorar-se e você é quem cria os motivos para querê-la. E não te arrependas do que tiver escolhido, porque apesar da trajetória humana ser constantemente desvalorizada, como sinal de perda, fracasso, dor... O tempo, como entidade relativa e infinita, pode também ser o que auxilia a regenerar-se sempre que sentir que não sente nada. É ele quem te propõe a mudança. Se você quiser...

E eu peço tanto que você chegue... Com ou sem mudança.
Vou esperar você encher o seu reservatório de pequenos sentimentos e retorne...
Eu sinto saudades de você.

"
"Mas o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento."

- "Acabou"?
- Uma dose de sono, por favor. Eu que preciso dormir.

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